Wednesday, November 29, 2006

Apometria: uma técnica espiritualista

PONTO DE DISCUSSÃO


Responsável por discussões nas casas espíritas, a apometria se constitui técnica espiritualista desenvolvida e basicamente utilizada por profissionais da área médica, não sendo, portanto, assunto afeto à Doutrina Espírita.

Neste artigo, a história e algumas informações sobre o tema.

Cleyde Novo de Almeida


Em 1965, um psiquista portorriquenho não-espírita, que se ocupava dos estudos da alma, chamado Luiz Rodrigues, residente, nesse tempo, no Rio de Janeiro, esteve em Porto Alegre, e, a convite de Conrado Ferrari, na época presidente do Hospital Espírita daquela cidade, realizou algumas demonstrações de uma técnica, chamada por ele de “Hipnometria” e que era utilizada para o tratamento de enfermidades em geral, com resultados aparentemente satisfatórios.

A importância desse trabalho residia em obter, com certa facilidade e rapidez, o desdobramento do “corpo astral”, tanto da sensitiva (sua enfermeira particular), como do paciente, para a dimensão extrafísica, através da aplicação de pulsos magnéticos concentrados e progressivos. Ao mesmo tempo, por sugestão, comandava esse afastamento para o plano astral, onde equipes de médicos e enfermeiros desencarnados orientavam nas tarefas de diagnósticos e terapêutica.

André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, no capítulo XXI, página 149, informa que “quem possa observar, reparará, à medida (que) se afirme a ordem do hipnotizador, ...escapa abundantemente do tórax do subjet caído em transe, um vapor branquicento que, em se condensando qual nuvem inesperada, se converte... numa duplicata dele próprio, quase sempre em proporções ligeiramente dilatadas” ... “o sensitivo, desligado da veste física, passa a movimentar-se e, ausentando-se muita vez do recinto da experiência, atendendo a determinações recebidas, pode efetuar apontamentos a longa distância ou transmitir notícias, com vistas a certos fins”.

Nessa época, José Lacerda de Azevedo, médico formado em 1950 pela Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul e trabalhando Já há algum tempo na Doutrina Espírita, assistiu a duas dessas demonstrações. Homem de ciência, interessado no aspecto experimental do Espiritismo, tendo adquirido, com o passar dos anos, grande conhecimento graças à meticulosa e profunda observação realizada no campo mediúnico, ficou muito interessado nessa nova técnica, e, como só poderia acontecer, resolveu conhecê-la melhor, colocando-a em prática.

Começou a experiência, usando sua própria esposa, Dona Yolanda, médium desenvolvida. Com surpresa, constatou a eficiência e percebeu nesse procedimento um grande campo de investigação e aplicação nas tarefas de socorro aos sofredores de todos os matizes. Usando apenas médiuns acostumados ao trabalho de intercâmbio, instaurou um melhor relacionamento com o mundo espiritual (ver nota 1) e, com isso, os medianeiros podiam descrever detalhadamente os acontecimentos, os encontros com os desencarnados e transmitir as orientações da equipe do plano espiritual.

André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, capítulo XXI, página 155, ensina: "É imperioso notar.. que considerável número de pessoas, principalmente as que se adestraram para esse fim, efetuam incursões nos planos do Espírito, transformando-se, muitas vezes, em preciosos instrumentos dos Benfeitores da Espiri­tualidade, como oficiais de ligação entre a esfera física e a extrafísica".

Animado com os resultados, o Dr. Lacerda passou a utilizar e a desenvolver, cada vez mais, essa técnica, verificando logo de início, possibilidades novas e um imenso campo para experimentação, se conduzida com método objetivo e sistemático.

Não se esqueça, por oportuno, que em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XIX, item 5, encontra-se o seguinte: “o poder da fé participa da ação direta e especial do magnetismo, com cujo fluido, como agente universal, o Homem age, modificando-lhe as propriedades e dando-lhe uma impulsão, por assim dizer irresistível. Por isso, quem reunir à fé ardente uma grande potência fluídica normal, pode, pela simples vontade dirigida para o bem, operar extraordinários fenômenos de cura e outros, outrora considerados prodígios, e que são apenas consequentes de uma lei natural”...

Atento a todas essas informações, José Lacerda percebeu que esse método devidamente utilizado descortinava possibilidades de progresso no tratamento dos transtornos e distúrbios espirituais. Constatou ser uma técnica eficiente de desdobramento induzido do perispírito, eficaz nos diagnósticos e tratamentos, além de desenvolver as qualidades mediúnicas.

Novamente André Luiz vem em auxílio explicando no capítulo XIV de Mecanismos da Mediunidade, página 108, que: "se o passivo prossegue interessado no progresso de suas conquistas espirituais este consegue, à custa de esforço, por intermédio da profunda concentração das energias mentais,... cair em hipnose ou letargia, catalepsia ou sonambulismo - ainda pelo reflexo condicionado igualmente específico - afastando-se do envoltório carnal, em plena consciência, para entrar em contacto com entidades encarnadas ou desencarnadas de sua condição ou para provocar por si mesmo certa categoria de fenômenos físicos, mediante a aplicação de energia acumulada, ... nas quais a própria vontade do operador parcial, ou integralmente separado do corpo somático, exerce determinada ação sobre as células físicas e extrafísicas, estabelecendo acontecimentos inabituais para o mundo rotineiro dos cinco sentidos".

E no mesmo livro, no capítulo XVIII na página 133, informa: "Quanto mais se lhe acentuem o aperfeiçoamento e a abnegação, a cultura e o desinteresse, mais se lhe sutilizam os pensamentos, e com isso, mais lhe aguçam as percepções mediúnicas, que se elevam a maior demonstração de serviço, de acordo com as suas disposições individuais".

Por achar que o nome Hipnometria, não estava adequado, pois o método, nada tinha a ver com o sono, Lacerda, deu-lhe o nome de Apometria, palavra que vem do grego apo (além de, fora de, afastamento, separação, distanciamento) e metron (relativo à medida de tempo). Portanto, apometria é a junção dos dois conceitos formando uma nova palavra.

Ela é apenas, repita-se, uma técnica. A técnica de "separação entre os componentes somáticos do Homem e sua constituição espiritual. E viabiliza o tratamento dos diversos níveis energéticos do Ser, através da intervenção dos mentores espirituais e dos médiuns.

No livro Apometria vista do Além, na página 196, recolhemos a seguinte informação: "Quando temos um conjunto de encarnados num trabalho de apometria, os Espíritos agilizarão uma tão forte corrente magnética tirada dos médiuns, que o obsessor abandonará rapidamente aquele campo magnético e raramente retornará para continuar obsediando: Retiramos o fluido magnético dos médiuns e depositamos também no reencarnado obsediado; juntas nesse magnetismo, as energias formarão um campo protetor em cujo raio o obsessor encontrará enorme e intransponível dificuldade de penetração.

Isso é um recurso extraordinário da apometria. Um trabalho conjunto da Espiritualidade com os médiuns.

Uma das informações que ficou muito clara com a orientação sistemática do plano espiritual é a da necessidade de reforma íntima: isto é, reeducação para uma vida saudável, através de realizações humanitárias.

Jesus, em Mt 5:24, mostra-nos a necessidade da reconciliação com nossos irmãos e, mais adiante, no mesmo capitulo no versículo 39, ensina a importância da "não resistência ao mal". Ao curarmos as nossas enfermidades espirituais com a ação dos nossos pensamentos e de nossas obras, estaremos influindo positivamente na melhora de nossos males físicos.

O Cristo foi absolutamente claro quando explicou em Mt 15:11 e 19-20 que o que "mancha o Homem não é o que entra pela boca, mas o que sai dele: os maus pensamentos, os adultérios, as impurezas, os falsos testemunhos, as calúnias etc". Cita ainda um provérbio em Lc 4:23 dizendo:

"Médico cura-te a ti mesmo", mostrando que é dever de cada um o equilíbrio de seu corpo e de seu Espírito.

Ainda é André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade capítulo XIV, página 106, quem fala da hipnoterapia dizendo:

“Enquanto adormecido, a própria onda metal do paciente, em movimento renovador e guardando consigo as sugestões benéficas recebidas, atua sobre as células do veículo fisiopsicossomático, anulando tanto quanto possível, as inibições .funcionais existentes”... “o magnetizador agiu apenas como recurso de excitação e influência, porque as oscilações mentais em ação restaurativa dos tecidos celulares foram exteriorizadas pelo próprio consulente”.

Em muitas passagens dos Evangelhos, o Mestre exorta à fé, ao amor, à oração e à vigilância, como armas para a nossa saúde física e mental e para a nossa paz. Essa é uma lição que não pode e nem deve ser esquecida. Em resumo, cada um faz o seu “próprio milagre”, pelo esforço pessoal e pelo amor fraterno. Em Mt 16:27 Jesus reproduzindo preceito ao Velho Testamento (ver nota 2) lembra que o Pai, “recompensará a cada um segundo suas obras”.

A apometria, pois, "é uma ato de fé, portanto um ponto de partida", não faz parte de nenhuma seita ou religião determinada. É técnica e, como tal, pode e deve ser bem usada, para beneficiar todos os necessitados, encarnados e desencarnados, em qualquer instituição religiosa ou não, que busque levar socorro e atendimento fraterno, tanto espiritual quanto físico. Ela está "entrelaçada com a Física, com a Teologia e com conhecimento ou Inteligência Superior". Esse desdobramento induzido vem sendo utilizado em alguns “centros Espíritas que se especializaram, abrindo assim, novos horizontes para a realização da Medicina Espiritual”.


Críticas e objeções

Uma das críticas à apometria é a incredibilidade quanto aos médiuns desdobrados poderem plasmar no Além aparatos de correção e de operação destrutiva de certas massas fluídicas ou algumas construções etc. (âmbito, espíritos trevosos). O encarnado servir-se-á de seus fluidos térmicos para auxiliar os mais humildes, os enfermos, os necessitados em geral.
As possibilidades de evolução moral estão dentro de cada um de nós, aprimorando a inteligência e despertando a consciência. Com raras exceções, são os Espíritos desencarnados que utilizam parte desses fluidos para construir aparelhos e veículos, empregando-os também nas cirurgias espirituais etc,, onde são plasmados os aparatos específicos para cada caso.
Sem que o médium tenha conhecimento e vivência moral, essa técnica poderá desencadear um processo obsessivo de grandes proporções, pois pode açular sua vaidade e seu orgulho. O trabalhador mal preparado, vendo a rapidez com que se efetuam algumas curas, vangloria-se, achando que atingiu sozinho esses resultados, esquecido da constante atuação da Espiritualidade.
Essas objeções só vêm mostrar a necessidade constante e contínua da educação e da vigilância, para que haja conscientização do uso desse recurso. Trabalhos feitos com amor e caridade fraterna, cristãmente dedicados à elevação das criaturas sempre trazem progresso para todos (Apometria vista do além, capítulo 13).


Observação: o texto foi praticamente todo baseado no livro Apometria - Novos horizontes na Medicina Espiritual

Bibliografia:
Allan Kardec
. “O Livros dos Espíritos”, questão 433;
Allan Kardec. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XIX, item 5;
André Luiz. “Mecanismos da Mediunidade”, capítulos XIV -XVIII-XXI, Ed. FEB, 8ª edição, ano 1984;
Bíblia Sagrada. Evangelho de Mateus - 5:24 -15:11.19-20-16:27;
Bíblia Sagrada. Evangelho de Lucas - 4:23;
Vítor Ronaldo Costa. “Apometria -Novos horizontes da Medicina Espiritual”, Ed. O Clarim - 2° edição - ano 2000 - toda a obra;
Dimas Silveira. “Apometria -Ponte para a Redenção”, Editoração Eletrônica: Millennium Comportamento, ano 1998/1999;
João Berbel, pelos Espíritos: Eurípedes Barsanulfo, Ismael Alonso, Miguel de Alcântara. “Apometria-vista do Além”- Editora DPL - ano 1999 -2° edição.


Nota 1 - Em O Livro dos Espíritos, questão 433, somos informados que “há disposições físicas que permitem ao Espírito libertar-se mais ou menos facilmente da matéria”;
Nota 2 -Jó 34:11 /Sl. 62:12/Prov. 12:14 e 24:42/Isaías 3:10,17:10/Jeremias 32:19 /Ezequiel 33:20,18:20, 7:27


Cleyde Novo de Almeida é expositora espírita, atuando fundamentalmente como dirigente de classe do Curso de Expositor Espírita da FEESP.


Publicado no jornal “O Semeador”, FEESP, São Paulo, novembro/2003, pp. 8-9