Sunday, August 26, 2007

Há órgãos no corpo espiritual?


MAURO PAIVA FONSECA

É a pergunta que todos gostaríamos de ver respondida, tal é a dificuldade para concebermos e assimilar aquilo que não podemos ver nem perceber com os imperfeitos sentidos do corpo físico. Entretanto, a resposta não poderá ser “sim” ou “não” como gostaríamos que fosse, porque seriam afirmações categóricas, radicais, que jamais expressariam a complexidade e magnitude das variantes que determinam uma ou outra das afirmativas.
O iluminado Espírito Emmanuel na obra "O Consolador" responde, na pergunta número 30: “Dentro das leis substanciais que regem a vida terrestre, extensivas às esferas espirituais mais próximas do planeta, já o corpo físico, excetuadas certas alterações impostas pela prova ou tarefa a realizar, é uma exteriorização aproximada do corpo perispiritual, exteriorização essa que se subordina aos imperativos da matéria mais grosseira, no mecanismo das heranças celulares, as quais, por sua vez, se enquadram nas indispensáveis provações ou testemunhos de cada indivíduo”.
Ora, se é uma exteriorização do corpo perispiritual, então os órgãos preexistem à criação do corpo físico!
Não deveremos esquecer que o perispírito é o plano organogênico do corpo físico, do mesmo modo que uma semente o é da árvore que sua germinação trará à vida; por isso, é absolutamente natural e lógico que, ao desprender-se dele pelo fenômeno da morte, os sistemas orgânicos o acompanhem e, com eles, as necessidades próprias.
Sabemos que o perispírito, ou corpo espiritual, é o veículo de expressão do Espírito, energia inteligente individualizada pelo Criador, e tem sua formação material fluídica dependente do estado vibratório do desencarnado que o habita. Quanto mais evoluído moral e intelectualmente, mais etérea é a sua natureza e menos imperiosas as necessidades a satisfazer. Do mesmo modo como na Terra o homem mais intelectualizado e moralizado sesatisfaz com uma alimentação frugal e o homem ignorante e embrutecido pela deficiência intelectual e atraso moral em que se demora exige uma alimentação mais pesada, mais densa, os Espíritos desencarnados igualmente terão as exigências da natureza “material” de seu corpo espiritual, a depen der do estado vibratório que lhe seja peculiar.
Afirmar que os Espíritos desencarnados não comem, não dormem, não se cansam, e não estão sujeitos às necessidades físicas dos sistemas orgânicos em geral, não faria sentido. Na obra "Os Mensageiros", psicografada por Francisco C. Xavier, à página 92 da 5a edição, FEB, vemos André Luiz e Vicente, dois Espíritos em viagem da colônia Nossa Lar para a crosta terrestre, descansarem numa pousada a meio do trajeto, onde lhes foi oferecida farta refeição de frutas.
Supor que alguém, porque morreu, poderá prescindir dos sistemas orgânicos que o acompanharam durante toda a vida material seria santificá-lo ou emprestar-lhe uma angelitude que nem todos estarão à altura de possuir, pois a passagem direta da Terra para as Esferas de Luz é apanágio das almas angélicas e santificadas, para as quais as dependências materiais já não têm qualquer sentido.
Como ninguém vira santo porque morre, segue-se que a quase totalidade dos desencarnados carecerá dos sistemas orgânicos para conduzir-se na vida espiritual.
Assim, cada Espírito procurará a satisfação das próprias necessidades, conforme o estado de materialidade que ainda guarde. À proporção que as necessidades forem desaparecendo, com a transferência dos estados mentais e conscienciais para condições mais elevadas, os órgãos irão se atrofiando por falta de uso objetivo até o completo desaparecimento. Na obra supracitada, à mesma página, o anfitrião Alfredo refere-se à falta de medicamentos e alimentos para atender o grande número de desencarnados que estão sob tutela do Posto de Socorro de "Campos da Paz", cujos estados de materialidade e desequilíbrio ainda reclamam tais recursos.
Na obra Nosso Lar, do mesmo autor espiritual, vemos a Governadoria da colônia de mesmo nome, providenciando o auxílio de especialistas em alimentação pranaiama pela respiração, habitantes de outras esferas, para coibir abusos da população da colônia que começava a sofisticar o apuro das preferências alimentares, exigindo cardápios cada vez mais próximos dos alimentos materiais terrenos.
Se estes fatos acontecem com desencarnados de mediana evolução, imaginemos o que ocorrerá com os infelizes irmãos, habitantes das regiões inferiores do umbral, sujeitos às aflitivas carências de uma vida embrutecida e sem esperança!
À proporção que o desencarnado vai adquirindo independência pela elevação de sentimentos e enriquecimento intelectual, o domínio mental sobre seu veículo de expressão vai aumentando, e o fenômeno da ideoplastia vai promovendo as transformações normais, da natureza material para a natureza espiritual. A ideoplastia é a força resultante das ações produzidas pela consciência, pelo pensamento e pela vontade, capaz de modificar a estrutura do perispírito.

(REVISTA REFORMADOR, FEESP, Fevereiro/2007, pp. 34-35)